"Viajar para mim nunca foi turismo. Jamais tirei fotografia de
lugar exótico. Viagem é alongamento de
horizonte humano." (...)"Viagens, folclore e idiomas são uma espécie de
constante em minha vida. Comprei livros e discos de hebraico. Estudei hindi,
sânscrito. O desejo de ler Göethe no original me obrigou a estudar alemão.
Não estudo idiomas para falar, mas para melhor penetrar a alma dos povos." Entrevista a Pedro Bloch, Revista Manchete - abril/1964 |
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"Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas,
e foram sempre positivas para mim: Silêncio e Solidão. Essa foi sempre a
área da minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos
mundos geométricos, onde relógios revelaram o segredo de seu mecanismo e as
bonecas, o jogo do seu olhar (...). Mais tarde, foi nessa área que os
livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e seus sonhos
(...). Foi ainda nessa área que apareceram um dia os meus próprios livros,
que não são mais do que o desenrolar natural de uma vida encantada com todas
as coisas, e mergulhada em solidão e silêncio tanto quanto possível." MEIRELES, Cecília: Obra Poética, Rio de Janeiro, Nova Aguillar |
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"(...) Esse meu jeito
esquivo é porque acho que cada ser humano é
sagrado, compreende? É esse pudor de invadir, esse medo do perto. Eu sou uma
criatura de longe (...)." Entrevista a Pedro Bloch, Revista Manchete - abril/1964 |
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"Educação,
para mim, é botar, dentro do indivíduo, além do esqueleto de ossos que já
possui, uma estrutura de sentimentos, um esqueleto emocional. O entendimento
na base do amor." Entrevista a Pedro Bloch, Revista Manchete - abril/1964 |
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"(...) à medida que caminhamos por estes novos campos
[da nova educação] é que sentimos como aqui se expande sinceramente a vida e
cada elemento individual pode modelar com liberdade a sua forma de modo que,
no milagre das realizações posteriores, esteja cada valor em seu logar
proprio e nenhum poder fique sem aproveitamento." (p.7) MEIRELES, Cecilia. O Espirito Victorioso. Typographia do Annuario do Brasil, s.d. |
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"Talvez a importancia
da escola moderna
não resida tanto nas suas intenções (...): o que é mais curioso, o que na
verdade nos interessa, pela revelação que nos faz d’este instante de
evolução é a generalização que tomaram essas idéas, (...) o seu aparecimento
simultaneo sobre diversos pontos da terra, fazendo crêr numa nivelação geral
de desenvolvimento, entre povos das mais diversas origens e tradições. Vemos
nesse momento passar para o dominio popular
uma vasta quantidade de pensamentos que até aqui representavam limitadas
propriedades de sonhadores e pensadores. Assistimos a esse phenomeno
com admiração: e com mais admiração ainda vemos não só essas idéas se
transformarem, assim, de um ambiente para outro, de um pequeno mundo
individual para o grande mundo collectivo, como também não permanecem como
simples idéas, antes adquirem forma, corpo, actividade, de modo a sentirmos
com uma evidencia indiscutivel que ha uma forma positiva para todas as
aspirações humanas, e que o sonho não é mais que uma antecipação de
realidades adiantadas." (p.8) MEIRELES, Cecilia. O Espirito Victorioso. Typographia do Annuario do Brasil, s.d. |
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"O que a escola moderna
pretende, acima de tudo, é restituir á creatura humana as suas primitivas
qualidades de animo livre, de inteligencia franca, (...)." (p.14) MEIRELES, Cecilia. O Espirito Victorioso. Typographia do Annuario do Brasil, s.d. |
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"Minha pajem uma escura e obscura Pedrina (...) foi a
companheira mágica da minha infância. Ela sabia muito do
folclore do Brasil
e não só contava histórias, mas dramatizava-as, cantava, dançava, e sabia
adivinhações, cantigas, fábulas, etc (...). Por outro lado, minha avó, com
quem fiquei, depois de perder minha mãe, sabia muitas coisas do folclore
açoriano, e era muito mística, como todos os de S. Miguel." MEIRELES, Cecília: Obra Poética, Rio de Janeiro, Nova Aguillar |
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"Mas, quando falo dessas pequenas felicidades
certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não
existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para vê-las assim." Entrevista a Pedro Bloch, Revista Manchete - abril/1964 |
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"Através dos idiomas e do folclore vejo até que
ponto somos todos filhos de Deus. A passagem do mundo mágico para o mundo
lógico me encanta." Entrevista a Pedro Bloch, Revista Manchete - abril/1964 |
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"(...) o mestre é
neste momento o mais importante factor na preparação da sociedade futura. o mestre aparece-nos hoje não mais com a sua velha
aparencia de transmissor de conhecimentos imóveis, mas como um artista e
como um homem, creando largamente com tudo que houver de preclaro na sua
inteligência, de puro no seu sentimento e de nobre na sua atividade [pois
vai tocar no "elemento primordial da vida"; vai "atuar sobre principios
fundamentais" ao ‘tocar a substancia mesma da creação"]." (p.18) MEIRELES, Cecilia. O Espirito Victorioso. Typographia do Annuario do Brasil, s.d. |
"O educador não é o burocrata que vai a
escola como a uma repartição, limita a sua atividade de funcionário a meia
dúzia de horas diárias e respeita o prestígio das autoridades: é a
criatura construtora de liberdade e progressos
harmoniosos que, vivendo no presente, está sempre investigando o futuro,
porque é nesse futuro, povoado de promessas de vida melhor, que o destino de
seus discípulos se deverá realizar com toda plenitude." Diário de Notícias, 1o de agosto de 1930, Página de Educação, p.5 |
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"A prática da escola pode ser
instruir: mas a sua finalidade deve ser educar." (p.19)(...)
"Tudo se encadeia nesta sucessão: instruir para educar,
educar para viver, e viver para que ? [A única realidade do homem
é a realidade espiritual.]" (p.21) MEIRELES, Cecilia. O Espirito Victorioso. Typographia do Annuario do Brasil, s.d. |
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"Estudei canto e violino.
Abandonei. Era preciso ganhar a vida e poesia
se pode criar até numa viagem de bonde. Mesmo nas reuniões em que muita
gente discutia, eu era capaz de me ausentar em meu mundo e construir. Aos
poucos pude criar a minha Ilha de Nanja, a São Miguel transfigurada pelo
sonho. Acho linda a continuidade humana através da poesia." MEIRELES, Cecília: Obra Poética, Rio de Janeiro, Nova Aguillar |
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"A babá Pedrina me contava a história do Palácio de Louça Vermelha. Eu
achava que devia ser muito fresco viver num palácio assim e, em menina, já
estava pronta a transformar um jarro imenso que havia em casa em palácio,
quando, querendo escondê-lo de meus sonhos, de tanto procurarem lugar para ocultá-lo, o
partiram em mil pedaços." Entrevista a Pedro Bloch, Revista Manchete - abril/1964 |