"Quantos elementos cá da roça encontro para uma arte
nova! Quantos filões! E muito naturalmente eu gesto coisas, ou deixo que se
gestem dentro de mim num processo inconsciente, que é o melhor: gesto uma
obra literária que, realizada, será algo nuevo neste país vítima de
uma coisa: entre os olhos dos brasileiros cultos e as coisas da terra há um
maldito prisma que desnatura as realidades." (Literatura do Minarete,
apud AZEVEDO, Carmen Lúcia de: Monteiro Lobato: furacão na Botocúndia.
São Paulo, Ed. SENAC, 1997, p. 54) © Monteiro Lobato, Todos os direitos reservados |
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"Vossa Senhoria
tem o seu negócio montado, e quanto mais coisas vender, maior será o lucro.
Quer vender também uma coisa chamada "livros"? Vossa Senhoria não precisa
inteirar-se do que essa coisa é. Trata-se de um artigo comercial como
qualquer outro; batata, querosene ou bacalhau. É uma mercadoria que não
precisa examinar nem saber se é boa nem vir a esta escolher. O conteúdo não
interessa a V.S., e sim ao seu cliente, o qual dele tomará conhecimento
através das nossas explicações nos catálogos, prefácios etc. E como V. S.
receberá esse artigo em consignação, não perderá coisa alguma no que
propomos. Se vender os tais "livros", terá uma comissão de 30 p. c.; se não
vendê-los, no-los devolverá pelo Correio, com o porte por nossa conta.
Responda se topa ou não topa". (MATTOS, Ilmar Rohloff de: "No sítio de José
Bento". Relatório do Projeto Integrado de Pesquisa Modernos
descobrimentos do Brasil.CNPq, 1997, p, 16.) |
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"À medida que o progresso vem chegando com a via
férrea, o italiano, o arado, a valorização da propriedade, vai o caboclo
refugindo em silêncio, com o seu cachorro, o seu pilão, a picapau e o
isqueiro, de modo a sempre conservar-se fronteiriço, mudo e sorna.
Encoscorado numa rotina de pedra, recua para não adaptar-se."
(Urupês, p. 235 Apud AZEVEDO, Carmen Lúcia de: Monteiro
Lobato: furacão na Botocúndia. São Paulo, Ed. SENAC, 1997, p. 58) © Monteiro Lobato, Todos os direitos reservados |
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"Escrever para crianças é semear em terra
roxa virgem - e não praguejada. Cérebro de adulto é solo já praguejado".
(Carta a Otaviano Alves de Lima, 13 de agosto de 1946. Apud MATTOS, Ilmar
Rohloff de: "No sítio de José Bento". Relatório do Projeto Integrado de
Pesquisa Modernos descobrimentos do Brasil.CNPq, 1997, p, 16.) © Monteiro Lobato, Todos os direitos reservados |
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"Como esta cidade mente à terra! E como se empenham em extirpar do seio dela
as derradeiras radículas da individualidade! Tendes sede? No bar só há
chopps, grogs, cocktails. Tendes fome? Dão-vos sandwichs de pão
alemão e queijo suíço. Lá apita um trem: é a Inglesa. Tomais um bonde: é a
Light. Cobra-vos a passagem um italiano. Desceis no cinema: é Íris, Odeon,
Bijou..." (O saci-pererê: resultado de um inquérito,
p. 12 Apud AZEVEDO, Carmen Lúcia de: Monteiro Lobato: furacão na
Botocúndia. São Paulo, Ed. SENAC, 1997, p. 64) |
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"E desta arte,
sempre vivo, evoluindo sempre, o saci que povoou de sonhos a filharada de
Tomé de Souza chegou até nós; e... ainda convive com as nossas crianças nas
cidades e com o sertanejo na roça" (O saci-pererê: resultado de um
inquérito, p.20 Apud AZEVEDO, Carmen Lúcia de: Monteiro
Lobato: furacão na Botocúndia. São Paulo, Ed. SENAC, 1997, p. 66) |
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"Uma coisa que sempre me horrorizou foi ver o descaso do brasileiro pela
criança, isto é, por si mesmo, visto como a criança não passa da nossa
projeção para o futuro" (Carta a Vicente Guimarães. Apud MATTOS, Ilmar
Rohloff de: "No sítio de José Bento".
Relatório do Projeto Integrado de Pesquisa Modernos descobrimentos do
Brasil.CNPq, 1997, p, 15.) © Monteiro Lobato, Todos os direitos reservados |
"O
estudo das crendices(...) revela o povo em sua íntima textura física. Até
hoje seguimos a senda oposta. Para fazer um fato novo tomamos a medida de um
habitante da lua. Nunca nos vemos a nós e todos os nossos males embicam
neste erro" (O saci-pererê: resultado de um inquérito. P. 283 Apud
AZEVEDO, Carmen Lúcia de: Monteiro Lobato: furacão na Botocúndia. São
Paulo, Ed. SENAC, 1997, p. 68) |
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"O
meu livro de contos... Cá entre nós: não sou literato, nem quero ser, porque
João do Rio o é. Mas, morando na roça, e, "curioso", muito amigo de
carpintejar, experimentei um dia aplicar às letras a arte do carapina. E
mede, serra, aplaina, encaixa, embute, entrosa, lixa, enverniza, fiz uns
contos para a "Revista do Brasil" como faria móveis se o material fosse
madeira." © Monteiro Lobato, Todos os direitos reservados |
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"Não há cultura possível sem livro e livro
barato, livro que penetre nas massas populares e lhes erga o nível mental.
Que nos vale ter picos como Rui Barbosa, se a planície se apresenta um dos
mais baixos níveis culturais do mundo? (...) O livro barato, acessível ao
povo, tem sido a nossa obsessão de editores falidos e ressurgidos, (...)" (Cartas
escolhidas I, p. 199. Apud AZEVEDO, Carmen Lúcia de: Monteiro Lobato:
furacão na Botocúndia. São Paulo, Ed. SENAC, 1997, p. 192) © Monteiro Lobato, Todos os direitos reservados |
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"Vossa Senhoria tem o seu negócio montado, e quanto mais coisas vender,
maior será o lucro. Quer vender também uma coisa chamada "livros"? Vossa
Senhoria não precisa inteirar-se do que essa coisa é. Trata-se de um artigo
comercial como qualquer outro; batata, querosene ou bacalhau. É uma
mercadoria que não precisa examinar nem saber se é boa nem vir a esta
escolher. O conteúdo não interessa a V.S., e sim ao seu cliente, o qual dele
tomará conhecimento através das nossas explicações nos catálogos, prefácios
etc. E como V. S. receberá esse artigo em consignação, não perderá coisa
alguma no que propomos. Se vender os tais "livros", terá uma comissão de 30
p. c.; se não vendê-los, no-los devolverá pelo Correio, com o porte por
nossa conta. Responda se topa ou não topa". (MATTOS, Ilmar Rohloff de: "No
sítio de José Bento". Relatório do Projeto Integrado de Pesquisa Modernos
descobrimentos do Brasil.CNPq, 1997, p, 16.) |
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"Tenho esperanças de que desta brincadeira da Revista
do Brasil me saia uma boa casa editora. Pena morarmos num país em que o
analfabetismo cresce. Cresce com o aumento da população" (A barca de
Gleyre II, p. 186. Apud AZEVEDO, Carmen Lúcia de: Monteiro Lobato:
furacão na Botocúndia. São Paulo, Ed. SENAC, 1997, p. 122) © Monteiro Lobato, Todos os direitos reservados |
"- Sou de pano, sim, mas de pano falante, engraçado paninho louco, paninho aqui da pontinha. Não tenho medo de vocês todos reunidos. Agüento qualquer discussão. A mim ninguém embrulha nem governa. Sou do chifre furado - bonequinha de circo. Dona Quixotinha." (Monteiro Lobato. D. Quixote das Crianças. São Paulo, Círculo do Livro, [sd]. P: 252)© Monteiro Lobato, Todos os direitos reservados |
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"...para crianças, um livro é todo o mundo. Lembro-me de como vivi dentro do
Robinson Crusoé
do Laemmert. Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam
morar. Não ler e jogar fora; sim morar, como morei no Robinson e n’Os
filhos do capitão Grant". (A barca de Gleyre II, p. 293. Apud
AZEVEDO, Carmen Lúcia de: Monteiro Lobato: furacão na Botocúndia. São
Paulo, Ed. SENAC, 1997, p. 167) |
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"Dizem que o Brasil não lê! Uma ova! A
questão é saber levar a edição até o nariz do leitor, aqui ou em Mato
Grosso, no Rio Grande do Sul, no Acre, na Paraíba, onde quer que ele esteja,
sequioso por leituras... Livro cheirado é livro comprado, e quem compra, lê.
Se o Brasil não lia é porque os velhos editores, na maior parte da santa
terrinha, limitavam-se a inumar os volumes nas poeirentas prateleiras das
suas próprias livrarias, e quem quiser que tome o trem, ou o navio, e vá ao
Rio comprá-los. Umas bestas! O Brasil está é louco por leituras. Só os
editores é que não sabiam disso!". (MATTOS, Ilmar Rohloff de: "No sítio de
José Bento". Relatório do Projeto Integrado de Pesquisa Modernos
descobrimentos do Brasil.CNPq, 1997, p, 17.) © Monteiro Lobato, Todos os direitos reservados |
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"Quando escrevi O choque, pus entre as
maravilhas do futuro a televisão. Pois já é realidade. (...) o rádio e a
televisão destroem o longe. Em breve futuro a palavra longe se
tornará arcaísmo." (A barca de Gleyre II, p. 309. Apud AZEVEDO,
Carmen Lúcia de: Monteiro Lobato: furacão na Botocúndia. São Paulo,
Ed. SENAC, 1997, p. 222) © Monteiro Lobato, Todos os direitos reservados |
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"O
chamado progresso não passa de uma escravização cada vez mais apertada, que
as massas consentem e aplaudem e, portanto, impõem à minoria individualista
(...) Ignoro se é para o bem ou para o mal nosso que progredimos em
corporatividade e diminuímos em indivíduo. Vamos tendendo para a vida da
colméia, onde o indivíduo não conta. A marcha para a frente é dirigida, mais
e mais, por fatores corporados, com rumo a um ideal coletivo. O motor e a
eletricidade, como os temos agora, a imiscuírem-se em quase todos os atos da
nossa vida diária, nos gregarizam mil vezes mais do que no tempo de
Thoreau." (América, p. 265. Apud AZEVEDO, Carmen Lúcia de:
Monteiro Lobato: furacão na Botocúndia. São Paulo, Ed. SENAC, 1997, p.
249) |
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"Loucura? Sonho? Tudo é loucura ou sonho
no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira –
mas já tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de
nenhum." (Miscelânea,
p. 178. Apud AZEVEDO, Carmen Lúcia de: Monteiro Lobato: furacão na
Botocúndia. São Paulo, Ed. SENAC, 1997, p. 291) © Monteiro Lobato, Todos os direitos reservados |
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"Querem que o país todo se torne um sítio de Dona Benta, o abençoado refúgio
onde não há opressão nem cárceres – lá não se prende nem passarinho na
gaiola. Todos são comunistas à sua moda e estão realizando a República de
Platão, com um rei-filósofo na pessoa de uma mulher." (Prefácios e
entrevistas, p. 308. Apud AZEVEDO, Carmen Lúcia de: Monteiro Lobato:
furacão na Botocúndia. São Paulo, Ed. SENAC, 1997, p. 312) |
"A criança é um ser onde a imaginação predomina em absoluto. O meio
de interessa-la é falar-lhe à imaginação" (Conferências, artigos e
crônicas, p. 249. Apud AZEVEDO, Carmen Lúcia de: Monteiro Lobato:
furacão na Botocúndia. São Paulo, Ed. SENAC, 1997, p. 311) © Monteiro Lobato, Todos os direitos reservados |
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"O sítio de Dona Benta foi se tornando famoso
tanto no mundo de verdade como no chamado Mundo de Mentira. O Mundo de
Mentira, ou Mundo da Fábula, é como a gente grande costuma chamar a terra e
as coisas do País das Maravilhas, lá onde moram os anões e os gigantes, as
fadas e os sacis, os piratas como o Capitão Gancho e os anjinhos como Flor
das Alturas. Mas o Mundo da Fábula não é realmente nenhum mundo de mentira,
pois o que existe na imaginação de milhões e milhões de crianças é tão real
como as páginas deste livro. O que se dá é que as crianças logo que se
transformam em gente grande fingem não mais acreditar no que acreditavam."
(O Picapau amarelo. Apud MATTOS, Ilmar Rohloff de: "No sítio de José
Bento". Relatório do Projeto Integrado de Pesquisa Modernos
descobrimentos do Brasil.CNPq, 1997, p,21) © Monteiro Lobato, Todos os direitos reservados |
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"A
nossa ordem social me é pessoalmente muito agradável mas eu penso em mim
mesmo se acaso houvesse nascido esterco. Esta visão da realidade brasileira
sempre me preocupou e sempre me estragou a vida. Nada mais lógico, pois, do
que o meu interesse pelo homem que não conheço mas acompanho desde os tempos
em que com um punhado de loucos lutava contra o poder do governo." (Apud
AZEVEDO, Carmen Lúcia de: Monteiro Lobato: furacão na Botocúndia. São
Paulo, Ed. SENAC, 1997, p. 338) |
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"Não obstante a menina cresce, aconchegada com amor no seio do povo. Já é
ela, a neta, e não mais a avó erudita, quem satisfaz as necessidades de
intercambio mental dos roceiros, das patuleias urbanas e dos literatos que
se dirigem às massas e não às elites. Nela é que o sertanejo ama, o gaúcho
bravateia, o retirante chora, o seringueiro lamenta-se, o vaqueiro descanta,
o cafajeste pernostica. Tem já poetas embelecados pelas suas graças
nascentes, e adoradores prosistas, doidos pelo seu linguajar langue,
ingenuo, expressivo e vivamente impregnado da côr, do som, do cheiro, do
itê, do agreste da terra brasílica (...) |
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"Criar oportunidades para
todos, eis o programa. Mas só há de conseguir isso pelo desenvolvimento da
indústria do combustível e do ferro, que são básicas. Do ferro sai a máquina
que multiplica a eficiência do homem; do combustível sai a energia mecânica
que faz mover a máquina. Máquina e energia: eis a grande revolução que temos
de operar neste imenso gigante entrevado e faminto que se chama Brasil"
(Apud Edgar Cavalheiro. Monteiro Lobato: Vida e Obra. São Paulo,
Cia. Editora Nacional, 1956. Pp: 402-403) © Monteiro Lobato, Todos os direitos reservados |
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"Dá-me prazer e traz-me compensações, coisas que jamais senti e tive
escrevendo para marmanjos. Prazer... Será que a criança subsiste sempre no
adulto? Hum...Vem daí a sabedoria popular dizer que a velhice é um retorno à
puerilidade. [...] O gosto que sinto em escrever histórias que irão dar
prazer às crianças, prova que estou chegando à idade mental delas. A criança
que mais se diverte com as minhas histórias é a que subsiste ou está
renascendo dentro de mim. Eis tudo... Velhice". (Apud MATTOS, Ilmar
Rohloff de: "No sítio de José Bento". Relatório do Projeto Integrado de
Pesquisa Modernos descobrimentos do Brasil.CNPq, 1997, p,22) |
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"as fábulas constituem um alimento espiritual
correspondente ao leite na primeira infância. Por intermédio delas a moral,
que não é outra coisa mais que a própria sabedoria da vida acumulada na
consciência da humanidade, penetra na alma infante, conduzida pela
loquacidade inventiva da imaginação. Esta boa fada mobiliza a natureza, dá
fala aos animais, às árvores, às águas e tece com esses elementos pequeninas
tragédias donde ressurte a ‘moralidade’, isto é, a lição da vida. O
maravilhoso é o açúcar que disfarça o medicamento amargo e torna agradável a
sua ingestão". (Fábulas , 1918 Apud MATTOS, Ilmar Rohloff de: "No
sítio de José Bento". Relatório do Projeto Integrado de Pesquisa Modernos
descobrimentos do Brasil.CNPq, 1997, p,23) © Monteiro Lobato, Todos os direitos reservados |
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"Esta minha saída serviu para me revelar uma coisa: o que é a
pátria. Pátria é a língua, nada mais. O sair fora da língua nos deixa
aleijados - "despatriados"- expatriados. Viver é sobretudo conversar, e como
conversar em pátria estranha, isto é, em língua estranha? A grande coisa que
há no Brasil para os brasileiros não é o Duque de Caxias, nem o general
Dutra - é a língua". (Apud MATTOS, Ilmar Rohloff de: "No sítio de José
Bento". Relatório do Projeto Integrado de Pesquisa Modernos
descobrimentos do Brasil.CNPq, 1997, p,25) © Monteiro Lobato, Todos os direitos reservados |
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