A epilepsia no
Cinema e no Teatro
Cinema
Uma prova de amor.
Direção: Nick Cassavetes
A Vida é Bela. Direção:
Roberto Benigni
Falcão Negro em Perigo. Direção:
Ridley Scott
O Último Rei da Escócia. Direção:
Kevin Macdonald
24 hours party people. Direção:
Michael Winterbottom
Control. Direção: Anton Corbijn
The Exorcism of Emily Rose. Direção:
Scott Derrickson
Reflexos da Inocência. Direção: Baillie Walsh
Requiem. Direção: Hans-Christian
Schmid
The Andromeda Strain. Direção:
Robert Wise
Notre Dame de Paris. Direção:
Gilles Maheu
Os Doze Macacos.
Direção: Terry Gilliam
Uma prova de amor
Título original: My sister’s keeper
Gênero: drama
Ano de lançamento: 2009
Distribuição: Play Arte
Roteiro: Jeremy Leven e Nick Cassavetes
Direção: Nick Cassavetes
Eelenco: Cameron Diaz, Abigail Breslin,
Sofia Vassilieva, Allec Baldwin e Jason Patrick
|
 |
Narrado pela personagem Anna Fitzgerald, o filme Uma
história de amor apresenta a família Fitzgerald,
composta pelos pais e três filhos adolescentes, que vive
na luta constante para manter viva pelo maior tempo
possível a filha mais velha do casal, Kate. Quando a
menina tinha apenas dois anos de idade, descobriu-se que
ela sofria de leucemia e que precisava de um doador de
órgãos compatível com seu tipo sanguíneo. Mas esse não
era o caso de nenhum de seus familiares e o médico
responsável considerava um risco muito alto a doação de
estranhos.
A
solução proposta por Dr. Wayne e acatada por Sara e
Brian, pais de Kate, é de que eles tenham um bebê cuja
compatibilidade sanguínea fosse programada para as
doações de que a menina precisava. Esse bebê é Anna, a
caçula da família, que veio ao mundo para ajudar sua
irmã. Desde o nascimento, Anna passa por complexas
cirurgias e doações de sangue e de medula óssea, apenas
partes de uma longa lista de procedimentos médicos.
Quando atinge os 13 anos de idade, Kate sofre de
falência renal e precisa da doação de um rim da irmã
Anna. No entanto, ao contrário de fazer a doação
prontamente, Anna procura um famoso advogado para lutar
na justiça contra seus pais a fim de requerer
emancipação médica. Ao chegar ao escritório de Campbell
Alexander, Anna apresenta a ele uma quantia bastante
inferior ao que ele costuma cobrar de seus clientes e
pede que ele a defenda de qualquer maneira. Ele aceita.
Sara, que também é advogada e defende a si mesma e a seu
marido, numa discussão com Alexander, afirma não
entender porque ele aceitou o caso de Anna, uma vez que
ela não podia arcar com as despesas do processo. Sempre
acompanhado de Judge, seu cachorro, Alexander o leva ao
tribunal no dia da audiência. A juíza responsável fica
inquieta com aquele fato, mas aceita que o cão permaneça
na sala, se ficar quieto. A certa altura da audiência, o
cachorro começa a ficar agitado, a latir e tentar chamar
atenção do dono. A juíza fica cada vez mais nervosa com
a situação. Até que Alexander se levanta e deixa o
recinto. Quando chega ao corredor, ele entra em uma
crise de epilepsia.
Nesse momento, a narrativa de Anna Fitzgerald explica
porque Campbell aceita defendê-la na justiça mesmo com o
pagamento reduzido: ele sabia exatamente como era não
ter controle sobre o próprio corpo. A referência à
síndrome não aparece senão nesse momento, mas, apesar de
curta, é uma passagem bastante significativa. Comparável
à impossibilidade de Anna de escolher submeter-se a
diversas cirurgias ou não, a epilepsia cria a identidade
entre as duas personagens. Ela significa, de acordo com
o filme, uma total falta de controle sobre o próprio
corpo, que entra em convulsão sem que a pessoa possa
controlá-lo. E há ainda o segredo, quando interrogado
pela juíza sobre o porque de andar sempre acompanhado do
cachorro, Campbell silencia sobre a síndrome.
Provavelmente envergonhado por ter epilepsia, o advogado
não anuncia a própria crise ou sequer justifica a
presença do cachorro.
Aline
dell’Orto Carvalho
Bolsista de IC
Março de 2010 |
A Vida é Bela
Título original: La vita è bella.
Gênero: comédia dramática.
Ano de lançamento (Itália): 1997
Estúdio: Melampo Cinematografica
Distribuição: Miramax Films
Roteiro:
Vincenzo Cerami e Roberto Benigni
Direção: Roberto Benigni
Elenco: Roberto Benigni, Nicoletta Braschi, Giorgio
Cantarini.
|
 |
O filme A vida é bela, de Roberto Benigni, conta a
história de uma família que, graças à imaginação e à
persistência do pai, Guido Orefice, consegue sobreviver
aos horrores da Segunda Guerra Mundial e dos campos de
concentração.
Guido é um jovem italiano que se apaixona por uma professora
de escola primária de uma pequena cidade da Itália.
Dora, a moça com que ele encontra sempre ao acaso e a
quem encanta com suas fantasias, é filha de uma rica
família e está para ficar noiva do antipático
funcionário da prefeitura, Rodolfo, com quem não tem
nenhum desejo de se casar. Depois de vários encontros
fortuitos, Guido é retribuído em seu amor e ele e Dora
se casam.
Apesar de toda a imaginação de Guido e de sua vontade de não
se deixar abalar pela perseguição aos judeus, não há
mais como negá-la, ao longo dos anos, vários
acontecimentos não deixam dúvidas: o cavalo do seu tio é
pichado com xingamentos aos judeus; quando Guido e Dora
já têm um filho de aproximadamente 6 anos, Giosué, a
porta da sua livraria é pichada com a frase “negócio
judeu”; e a entrada de hebreus não é permitida em
estabelecimentos comerciais da cidade. No dia do
aniversário de Giosué, a casa dos Orefice é invadida e
pai e filho são levados para um campo de concentração.
Dora, que não era judia, pede para ir junto para poder
permanecer com sua família. Para não permitir que o
filho se assuste e tenha medo da situação, o pai
sustenta uma fantasia de que a prisão é um jogo, onde
quem conseguir se manter participando, ou seja, vivo,
vence. E é assim que consegue esconder o filho e
mantê-lo até o fim da guerra, sem ir para a câmara de
gás, como tantas outras crianças que foram vítimas do
exército nazista.
Mas o desejo de uma raça ariana, pura, superior, que povoava
as mentes dos nazistas dessa época não se restringia
apenas ao preconceito com os judeus. Também os ciganos,
os comunistas, os negros, os homossexuais e muitos
outros considerados impuros foram perseguidos. Dentre
estes estão os doentes mentais e físicos.
A alusão à epilepsia é secundária em relação à trama, mas
significativa no que diz respeito ao lugar dessa doença
na política eugenista dos nazistas e fundamental na
definição do caráter dos três personagens envolvidos na
cena.
Numa conversa durante o noivado de Dora com Rodolfo, a
diretora da escola onde ela leciona menciona um problema
de matemática dado aos alunos de 7 anos na Alemanha. O
que mais impressiona Dora na conversa é o fato de que
único elemento que causa espanto à diretora é o fato de
considerar o problema muito complexo para crianças dessa
idade e o único comentário que Rodolfo faz é de que o
problema é fácil, na verdade, e os dois nem sequer
percebem quando Dora se mostra indignada com as suas
opiniões.
“Diretora:
E não falo de Berlim. Até no campo, em Greveneck. 3° ano
primário. Ouçam este problema. Ainda me lembro porque me
impressionou. Problema: ‘Um louco custa ao Estado 4
marcos por dia. Um aleijado, 4 marcos e meio.
Um epilético, 3 marcos e meio.
A média é de quatro marcos ao dia, e os pacientes são
300 mil. Quanto economizaríamos se essa gente fosse
eliminada, suprimida?
Dora: Meu
Deus, não é possível.
Diretora:
Eu tive a mesma reação, Dora. Meu Deus, não é possível
para uma criança de 7 anos resolver isso. O cálculo é
complexo. Frações, porcentuais, é preciso conhecer um
mínimo de álgebra. Um problema de colégio, para nós.
Rodolfo:
Não, é só uma multiplicação. Quantos aleijados são? 300
mil?
Diretora:
Sim.
Rodolfo:
300 mil vezes 4. Matando todos economizaremos um milhão
e 200 mil marcos ao dia. Fácil, não?
Diretora:
Exato. Muito bem. Mas você já é grande. Na Alemanha,
perguntam isso a crianças de 7 anos. É outra raça
mesmo.”
No diálogo, a questão formulada às crianças alemãs expressa
menos um problema matemático e mais a propaganda
ideológica de um dos temas caros ao nazismo: a tese
eugenista da eliminação dos fracos, doentes e impuros
para a construção do triunfo da raça pura, e a reação de
Dora, de Rodolfo e da professora situa o modo de cada um
dos três ver e pensar o mundo.
A eugenia, uma área da medicina que tem como fim manter e
aprimorar a civilização, a perfeição, a pureza da raça
humana, encontra no projeto nazista de eliminação dos
indivíduos chamados impuros o seu auge. Mas, esse
pensamento não se restringiu à Segunda Guerra Mundial.
No Brasil, no começo do século XX, especialmente, muitos
médicos dos mais renomados, como Juliano Moreira, se
diziam eugenistas e defendiam a purificação da
sociedade. Esse processo contaria com proibição de
casamento daqueles que podiam, por herança, fazer nascer
outros indivíduos com as mesmas impurezas que ele; com a
internação de todos aqueles que figurassem na sociedade
como ameaça. Portanto, a fala da diretora sobre a
eliminação daqueles que a formulação nazista do problema
matemático considera um bem eliminar por serem
epiléticos, aleijados e
loucos representa a extrapolação de um projeto que era
defendido por médicos de várias partes do mundo.
Segundo Juliano Moreira, atitudes eugênicas eram
incentivadas nos países mais desenvolvidos e, em sua
opinião, deviam sê-lo também aqui no Brasil. Diversos
manuais médicos apresentam defesas de reclusão e
isolamento de pessoas com síndrome de epilepsia, e que
sofressem de outras síndromes ou de doenças mentais,
sempre com a justificativa da defesa da sociedade contra
a desordem que elas representavam.
Aline
dell’Orto Carvalho
Bolsista de IC
Julho de 2008 |
Falcão Negro em Perigo
Título Original: Black Hawk Down
Gênero: Drama
Ano de Lançamento (EUA): 2001
Estúdio: Columbia Pictures Corporation / Revolution
Studios / Jerry Bruckheimer Films
Distribuição: Columbia Pictures / Sony Pictures
Entertainment
Direção: Ridley Scott
Elenco: Josh Hartnett (Sargento Matt Eversmann); Eric
Bana (Sargento Norm "Hoot" Hooten); Ewan McGregor (John
Grimes)
|
 |
O filme mostra as
equipes de soldados americanos que vão em missão de paz
à Somália durante a guerra civil que assombra o país
para fornecer comida à população, que não tem acesso a
ela por culpa dos poderosos que comandam o país. Numa
dessas missões, um grupo de soldados é enviado para
buscar dois dos chefes de facções somalis, e, no
entanto, o que deveria demorar meia hora, acaba tomando
quinze horas e centenas de vidas.
Logo no início do filme, quando, num momento de descanso
e descontração dos militares americanos, um deles,
enquanto conversava e assistia à televisão, sofre uma
crise epilética. Numa curta cena, a personagem é
realmente mostrada sofrendo a crise. E, quando, depois
de já passada a tensão, seu amigo pergunta ao superior o
que será feito com ele, esse lhe responde que o soldado
será enviado de volta para casa e substituído em sua
posição.
Quando o superior explica ao soldado o que será feito
com seu companheiro, ele não está necessariamente tendo
uma atitude preconceituosa, no entanto, é importante
atentar para o fato de que, dentre tantos motivos que
podem fazer um soldado ser enviado do palco da guerra de
volta para casa, está o fato de ter epilepsia. Ela foi a
causadora, naquele caso, da perda da função que o
militar tinha.
Há que se questionar também por que motivo os seus
superiores não sabiam previamente da sua doença. Muitas
vezes, as pessoas a escondem devido ao preconceito dos
demais na hora de conceder um cargo, ou assumir uma
função. Outra possibilidade é a “falsa crise”, muitas
vezes verificada entre soldados, quer para escapar ao
serviço militar, quer por medo aos confrontos armados.
Aline dell´Orto Carvalho
Bolsista de IC
Junho de 2007 |
O Último Rei da Escócia
Direção: Kevin Macdonald.
Distribuidora: Fox Films.
Elenco: Forest Whitaker, Simon McBurney, Gillian
Anderson, James McAvoy, David Oyelowo, Kerry Washington.
Data: Setembro de 2006 (EUA)
|
 |
O filme O Último
Rei da Escócia mostra o governo ditatorial promovido
por Idi Amin em Uganda (1971-1979) através do prisma do
médico escocês Nicholas Garrigan. Recém-formado em
medicina, o jovem médico decide ir para Uganda em busca
de aventura e novas perspectivas de vida. Lá, por
acidente, torna-se o médico pessoal de Idi Amin durante
o período em que governava.
Rapidamente transforma-se no principal conselheiro do
ditador. No entanto, ao encarar tudo como uma aventura,
o dr. Garrigan se envolve em uma relação amorosa muito
arriscada com uma das esposas de Idi Amin, Kay Amin. A
maneira como Kay e o dr. Garrigan se conhecem é bastante
interessante para a pesquisa.
Kay Amin vive separada das outras esposas de Idi Amin.
Tem tudo o que necessita, mas nunca é visitada pelo
marido e ditador de Uganda. O motivo deste tratamento
diferenciado é o fato de um dos filhos de Kay Amin ter
nascido com epilepsia.
Por causa da doença, Idi Amin procura isolar Kay e seu
filho, tanto de sua vida privada como de sua vida
pública. Dessa forma, o filho não pode ir ao hospital
público para receber um tratamento médico para sua
doença, por medo de expor publicamente aquilo que é
considerado uma fraqueza do governante.
O personagem com epilepsia aparece apenas dessa maneira
e não é um personagem relevante no filme, e a cena da
crise é breve. Mesmo assim, preconceitos e tabus são
revelados. Esta história mostra como o estigma da doença
marca tanto a vida pessoal de um doente quanto a vida
pública de um governante, em uma teia de exclusão que
implica diversas esferas de relacionamento em uma dada
sociedade.
Fonte na Internet:
http://www.imdb.com/title/tt0455590/. Acesso em: 14
abril 2007
Leonardo Martins Barbosa
Rio de Janeiro, 14 de abril de 2007
|
24 hours party people
Diretor: Michael Winterbottom
Ano de Lançamento (EUA): 2002
Mais informações:
http://en.wikipedia.org/wiki/24_Hour_Party_People
(acesso em 19 novembro 2007)
|
 |
Documentário ficcional
sobre a cena musical de Manchester, Inglaterra, entre
1976 a 1997. Um dos personagens mais importantes (do
filme e da música contemporânea) é Ian Curtis,
líder da banda Joy Division (o nome "joy
division" viria de uma "divisão" de mulheres judias
obrigadas a servir sexualmente aos soldados alemães),
epiléptico, que não só tinha comumente ataques durante
os shows como fazia uma dança emulando movimentos
epilépticos, tipo de dança comum entre os punks, e
utilizada, por exemplo, por Renato Russo. (ver
referência a seguir ao filme "Control")
Clóvis Gorgônio
Webdesigner do Projeto
Novembro de 2007 |
Control
Diretor: Anton Corbijn
Ano de Lançamento (EUA): 2007
Produziodo por: Tony Wilson, Deborah Curtis, Todd
Eckert, Orian Williams, Iain Canning e Peter Heslop
Roteiro de Matt Greenhalgh, Deborah Curtis, Starring Sam
Riley e Samantha Morton
Mais informações:
http://en.wikipedia.org/wiki/Control_(2007_film)
(acesso em 19 novembro 2007) |
 |
Filme sobre o falecido
líder da banda Joy Division, Ian Curtis (1956-1980),
baseado no livro "Touching From a Distance", escrito
pela esposa de Curtis, Deborah. (ver referência
anterior, ao filme "24 hours party people")
Clóvis Gorgônio
Webdesigner do Projeto
Novembro de 2007 |
The Exorcism of Emily Rose
Direção: Scott Derrickson
Ano de Lançamento (EUA): 2005
Mais informações:
http://en.wikipedia.org/wiki/The_Exorcism_of_Emily_Rose
(acesso em 19 novembro 2007) |
 |
A personagem,
diagnosticada e tratada como epilética porém sem
melhoras, passa por um processo de exorcismo. É baseada
na história de Anneliese Michel, jovem católica alemã,
que morreu em 1976. (ver referência a seguir ao filme
"Requiem") Clóvis
Gorgônio
Webdesigner do Projeto
Novembro de 2007 |
Requiem
Direção: Hans-Christian Schmid
Ano de Lançamento: 2006
Mais informações:
http://en.wikipedia.org/wiki/Requiem_(film)(acesso
em 19 novembro 2007) |
 |
O filme foi promovido
como uma "descrição mais confiável" dos eventos que
levaram ao exorcismo de Anelliese Michem, em 1976. A
atriz Sandra Hüller recebeu o Urso de Prata do Festival
de Berlim em 2006 pela sua atuação como atriz principal.
(ver referência anterior, ao filme "The Exorcism of
Emily Rose")
Clóvis Gorgônio
Webdesigner do Projeto
Novembro de 2007 |
The Andromeda Strain
Direção: Robert Wise
Ano de Lançamento: 1971
Mais informações:
http://en.wikipedia.org/wiki/Requiem_(film)(acesso
em 19 novembro 2007) |
 |
Um clássico da
ficção-científica, dirigido por Robert Wise (The Sound
of Music ["A Noviça Rebelde"], West Side Story, The Day
the Earth Stood Still ["O dia em que a Terra parou"]) a
partir do livro de Michael Crichton (da série "Jurassic
Park").
No filme, um grupo de cientistas, os mais brilhantes em
suas áreas, são reunidos pelo governo americano para
resolver um problema aparentemente ligado a causas
alienígenas, após a queda de um satélite numa
cidadezinha (todos os moradores morrem, menos um bebê e
um velho alcoólatra). Uma das cientistas é suscetível a
luzes vermelhas piscantes, e tem um ataque epilético
durante uma situação de emergência, quando essas luzes
são acionadas. Com isso, questiona-se a sua capacidade
de continuar na equipe.
Clóvis Gorgônio
Webdesigner do Projeto
Novembro de 2007 |
Notre Dame de Paris
Gênero: Musical
Ano de apresentação: 1998
Músicas por: Richard Cocciante
Letras por: Luc Plamondon
Direção: Gilles Maheu
Elenco: Garou (Quasímodo), Daniel Lavoie (Frollo),
Patrick Fiori (Phoebus), Helène Segàra (Esmeralda).
|
 |
O musical, produzido e apresentado pela primeira vez na
França, em 1998, apresenta uma releitura da obra de
Victor Hugo, Notre Dame de Paris. A peça fez
enorme sucesso em diversos países, e pretende
representar com bastante clareza, por um lado, os
conflitos internos pelos quais passam as quatro
principais personagens: Quasímodo, um homem com
deficiências físicas que, devido à sua aparência, foi
mantido aprisionado na catedral de Notre Dame pelo
arquidiácono da catedral, Claude Frollo, autoridade
religiosa em Paris. Phoebus é um soldado do rei, que é
noivo de uma bela moça da nobreza francesa. Esmeralda é
uma cigana que, ao chegar a Paris, faz se apaixonarem os
três homens, cada amor vivido à sua maneira. Por outro
lado, a peça retrata as tensões sociais na cidade de
Paris por volta do ano de 1492.
São representadas questões ainda atuais para o mundo
contemporâneo e, portanto, o figurino da peça mistura
elementos de época e acessórios atuais. Temas como
exclusão social, desigualdade e preconceitos com a
deficiência são apresentados como sendo parte do
passado, mas que persistem ainda no presente.
Uma das músicas, Les portes de Paris, apresenta a
população de rua que vivia às portas de Paris, proibida
pelo arquidiácono Frollo de entrar na cidade durante a
noite. Esse cenário é apresentado como um lugar de
luxúria, onde vivem deficientes, alcóolatras,
prostitutas, todos aqueles que são vistos como
indesejáveis e como ameaça à ordem da cidade. O desejo
carnal é colocado como característica desse lugar, assim
como os crimes e as risadas.
Dentre as representações que os atores fazem de tantos tipos
sociais que pertencem a esse grupo, há pelo menos dois
que podemos identificar como sujeitos a crises que se
assemelham muito àquela normalmente caracterizada como
sendo de epilepsia. A expressão corporal dos atores é
expressiva: o corpo caído no chão, tendo uma convulsão
completa. A contorção das mãos, as pernas dobradas.
Todas essas são marcas muito comumente encontradas nas
representações da crise de epilepsia e que, nesse
musical, estão situadas em meio a um mundo onde reina a
desordem, um mundo noturno que não pertence e nem pode
pertencer à sociedade da cidade-luz. É um mundo onde a
lei é a exclusão. E, ainda que a alusão à epilepsia não
seja verbalizada, a representação de uma crise de
epilepsia é inequívoca e é significativo que faça parte
daquilo que é a desordem e que deve ser evitado, assim
como o crime.
Aline
dell’Orto Carvalho
Bolsista de IC
Junho de 2008 |
Os Doze Macacos
Título Original: 12 Monkeys
Gênero: Ficção Científica
Ano de Lançamento (EUA): 1996
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Terry Gilliam
Elenco: Bruce Willis, Madeleine Stowe, Brad
Pitt, Christopher Plummer, David Morse
|
 |
Os
Doze Macacos
é um
filme de ficção científica que aborda o tema de um vírus
que foi solto nas cidades mais populosas do mundo e
quase dizimou a espécie humana. Depois disso, no ano de
2035, os sobreviventes vivem num mundo subterrâneo, pois
não podem voltar à superfície ainda infectada. O
prisioneiro James Cole (Bruce Willis), em troca de sua
liberdade, aceita viajar ao ano em que a humanidade foi
contaminada para tentar descobrir qual foi o vírus
espalhado, pegar uma amostra dele, para que assim se
pudesse inventar a cura e os homens pudessem voltar à
sua vida normal. Ele chega à solução do enigma minutos
antes de sua morte por um tiro e não tem tempo de
impedir que o desastre aconteça. Mas, como tudo isso
aconteceu num passado não tão distante, James já estava
vivo, tinha em torno de dez anos, o que sugere que tudo
vai se repetir e que ele vai ter outra chance de salvar
a humanidade.
Quando chega ao ano para o qual foi enviado, James Cole
tenta convencer as outras pessoas a ajudá-lo, mas é
tomado por louco e internado em um hospício. Conhece,
então, Jeffrey Goines (Brad Pitt), um louco internado no
mesmo hospício, filho de um famoso virólogo e bastante
revoltado com o sistema capitalista. Numa de suas falas,
Jeffrey se mostra também irritado com a situação na qual
vivem os internos do hospício. Em dado momento, ele
afirma que os doentes são transformados em vegetais
pelos remédios que são obrigados a tomar e James Cole o
interrompe, dizendo que gostaria de dar um telefonema. E
a resposta dada por Jeffrey é a seguinte:
“Se
comunicar com o mundo exterior? Quem decide é o médico!
Se os loucos pudessem ligar à vontade, iam espalhar a
loucura através dos ouvidos de gente normal. Loucos por
toda parte! A praga da loucura. Na verdade, poucos aqui
são realmente loucos”.
Nesta
fala, o personagem de Brad Pitt demonstra a forma como
encara sua própria condição de interno, a forma como é
visto e que absorveu. A loucura é algo a ser calado, a
ser afastado do convívio social. É tratada como uma
praga, que pode se espalhar pela sociedade e, portanto,
deve ser contida no hospício, instituição de tratamento
e de isolamento. Os internos sofrem com o excesso de
remédios, que servem para acalmá-los e torná-los
resignados.
Durante muito tempo, pessoas com epilepsia foram
tratadas da mesma forma. Seu tratamento se confundia com
o da loucura, com o da histeria e de tantas outras
doenças. A epilepsia era tida como uma doença mental.
Eram todos colocados no mesmo lugar, onde ficavam
isolados do mundo, pois a sua síndrome era sinônimo de
perturbação da ordem social.
O
personagem vivido por Brad Pitt trata de um outro tema
relevante no final dessa fala, que é o dos interesses
que impelem à internação desnecessária exigida pelos
próprios familiares da pessoa. Muitas vezes, a condição
de uma pessoa não reclamava internação, no entanto, o
interesse de familiares, por conta, por exemplo, de uma
herança, levava à internação. Talvez Jeffrey não esteja
diretamente se referindo a isso quando diz “na
verdade, poucos aqui são realmente dementes”, mas
com certeza a sua fala levanta a questão, bastante
recorrente.
Portanto, o tema da internação como uma solução para os
que estão fora de instituições asilares, para a
sociedade que permanece livre, e uma violência para os
internos, para os isolados, para os doentes, ainda se
coloca na atualidade, assim como se colocava no começo
do século XX.
Aline dell’Orto Carvalho
Bolsista de IC
Junho de 2008 |
Reflexos da Inocência
Título Original: Flashbacks of a fool
Gênero: Drama
Ano de lançamento (EUA): 2008
Estúdio: Left Turn Films
Direção: Baillie Walsh
Elenco: Daniel Craig, Harry Heden, Mirian Karlin, Olivia
Williams.
|
 |
Na cozinha da pequena casa localizada
numa vila de pescadores na Inglaterra estão quatro
mulheres e um adolescente. Grace, a dona da casa, está
de pé, diante da pia, preparando o almoço; Peggy, Evelin
e Mrs Rogers, estão sentadas à mesa; Boots aguarda de
pé, próximo à porta, seu amigo Joe, filho de Grace, que
se veste no quarto. Fitando severamente aquele jovem
franzino, Mrs Rogers lhe dirige a seguinte pergunta:
“- Foi você que teve o
ataque epilético no
cinema?”
A confirmação de Boots é acompanhada
pela informação de que a crise fora induzida pelas
imagens do filme que assistia. O jovem, um tanto
constrangido pela pergunta da anciã, completa vacilante
a resposta dizendo que o episódio ocorrido no cinema não
mais havia se repetido. Com uma risada sarcástica Mrs
Rogers vaticina:
“ – Uma vez
epilético, sempre epilético.”
Enfim surge Joe, os jovens se despedem e
cruzam a porta da cozinha, e ganham a rua.
Voltando-se para as vizinhas, Mrs Rogers
conclui:
“ – Não confio nesse garoto. Parece que
está sempre pronto para nos roubar algo.”
Essa é a única referência à epilepsia no
filme que conta a história de Joe Scott, um decadente
ator de Hollywood que, ao receber a notícia da morte de
um amigo de infância, é levado a encarar seu passado. A
adolescência repleta de descobertas e marcada por uma
tragédia é o eixo central do primeiro longa-metragem do
diretor Baillie Walsh.
Contudo, é interessante focar na aversão
de Ms Rogers à Boots. Na narrativa de Walsh, não sabemos
se a anciã não confiava no jovem devido ao fato
de ser ele, supostamente, portador da moléstia, o que
denotaria seu preconceito; não sabemos também se ele
teve outras crises. O que podemos saber é que, ao menos
em parte, a sombria previsão de Mrs Rogers se confirmou:
Boots, de fato, apresentou uma fragilidade neurológica,
sua morte, já adulto, é diagnosticada como aneurisma
cerebral.
outubro de 2009 |
Teatro
Carolina
Texto: Tarcísio Lara Puiati
Direção: Renato Farias
Assistente de Direção: Fernanda Boechat
Direção Musical e Trilha Sonora Original: Wladimir
Pinheiro
Elenco: Júlia Rabello, Laura Castro, Marta Nobrega e
Sarah Cintra
Cenografia: Melissa Paro
Figurinos: Rodrigo Cohen
Iluminação: Paulo César Medeiros
Local: Centro Cultural Banco do Brasil – Teatro III (Rua
Primeiro de Março, 66 – Centro, Rio de Janeiro)
10 a 25 de novembro de 2007
quarta a domingo, 19:30h
|
 |
Um olhar feminino para
homenagear o escritor Machado de Assis às vésperas do
centenário de sua morte ocorrida em 1908. Essa é a
proposta do dramaturgo Tarcísio Lara Puiati ao levar aos
palcos a peça Carolina. Dirigido por Renato
Farias, o espetáculo tem Carolina Augusta Xavier de
Novais Machado de Assis – ou simplesmente Carolina –
como personagem central. Numa narrativa que mistura a
biografia e a obra de Machado, as atrizes Júlia Rabello,
Laura Castro, Marta Nobrega e Sarah Cintra se revezam
interpretando, além de Carolina, várias outras
personagens femininas do universo machadiano. O amor
eternizado por Machado em textos pessoais e ficcionais
aparece a todo o momento em cenas onde Carolina,
Guiomar, personagem de A mão e a luva, Helena
personagem título de um de seus romances e Capitu, de
Dom Casmurro – dialogam, trocam memórias e
impressões acerca de Machadinho – carinhosa
alcunha dada ao autor por Carolina. A realização do
espetáculo contou com uma pesquisa que, além de rever
grandes momentos da obra do autor, recorreu à biografia
de Machado escrita por Lucia Miguel Pereira e às cartas
trocadas por Carolina e Machado. No palco, os desafios
de um casal que, por trinta e quatro anos, enfrentou com
austera sobriedade as contradições de uma sociedade
repleta de preconceitos raciais e sociais – cabe lembrar
a origem humilde do mulato Joaquim Maria Machado de
Assis, que veio a se unir em matrimônio com uma culta
senhora da boa sociedade.
O que Carolina nos oferece
especificamente aos que se interessam pelo tema da
epilepsia em sua perspectiva histórica é a passagem onde
uma crise de epilepsia sofrida por Machado é relatada.
No início, Carolina é perguntada sobre a doença –
em nenhum momento se usa a palavra epilepsia – e
responde com um longo silêncio. Em seguida, a pergunta é
repetida, acompanhada de novo silêncio. Então, de forma
angustiada e constrangida, Carolina descreve a
estranha tonteira, que tal qual uma espécie de
transe, deixa o corpo em convulsão. A impotência
de Carolina é acompanhada pelo vexame: “alguém viu?”,
pergunta-se. E quase em sussurros conclui, metaforizando
a sensação deixada pela triste experiência: [...] nos
envolvendo, a chuva, o raio, o trovão...
O emocionado mergulho
nessa grande história de amor nos permite dimensionar as
dificuldades vividas por uma pessoa com epilepsia
durante no século XIX, mesmo sendo esta pessoa um
prestigiado literato. O preconceito, o silêncio, o
estigma, mais que
pensamentos idos e vividos, constituem as
experiências concretas de um dos maiores intérpretes da
sociedade carioca e brasileira.
Novembro de 2007
Roberto Cesar Azevedo
Aluno do Curso de Graduação em História da PUC-Rio
Participante voluntário do Grupo de Pesquisa
|
|