Cinema e Teatro


A epilepsia no Cinema e no Teatro

Cinema

Uma prova de amor. Direção: Nick Cassavetes

A Vida é Bela. Direção: Roberto Benigni

Falcão Negro em Perigo. Direção: Ridley Scott

O Último Rei da Escócia. Direção: Kevin Macdonald

24 hours party people. Direção: Michael Winterbottom

Control. Direção: Anton Corbijn

The Exorcism of Emily Rose. Direção: Scott Derrickson

Reflexos da Inocência. Direção: Baillie Walsh

Requiem. Direção: Hans-Christian Schmid

The Andromeda Strain. Direção: Robert Wise

Notre Dame de Paris. Direção: Gilles Maheu

Os Doze Macacos. Direção: Terry Gilliam

 

Uma prova de amor

Título original: My sister’s keeper
Gênero: drama
Ano de lançamento: 2009
Distribuição: Play Arte
Roteiro: Jeremy Leven e Nick Cassavetes
Direção: Nick Cassavetes
Eelenco: Cameron Diaz, Abigail Breslin,
Sofia Vassilieva, Allec Baldwin e Jason Patrick
 

Narrado pela personagem Anna Fitzgerald, o filme Uma história de amor apresenta a família Fitzgerald, composta pelos pais e três filhos adolescentes, que vive na luta constante para manter viva pelo maior tempo possível a filha mais velha do casal, Kate. Quando a menina tinha apenas dois anos de idade, descobriu-se que ela sofria de leucemia e que precisava de um doador de órgãos compatível com seu tipo sanguíneo. Mas esse não era o caso de nenhum de seus familiares e o médico responsável considerava um risco muito alto a doação de estranhos.

A solução proposta por Dr. Wayne e acatada por Sara e Brian, pais de Kate, é de que eles tenham um bebê cuja compatibilidade sanguínea fosse programada para as doações de que a menina precisava. Esse bebê é Anna, a caçula da família, que veio ao mundo para ajudar sua irmã. Desde o nascimento, Anna passa por complexas cirurgias e doações de sangue e de medula óssea, apenas partes de uma longa lista de procedimentos médicos.

Quando atinge os 13 anos de idade, Kate sofre de falência renal e precisa da doação de um rim da irmã Anna. No entanto, ao contrário de fazer a doação prontamente, Anna procura um famoso advogado para lutar na justiça contra seus pais a fim de requerer emancipação médica. Ao chegar ao escritório de Campbell Alexander, Anna apresenta a ele uma quantia bastante inferior ao que ele costuma cobrar de seus clientes e pede que ele a defenda de qualquer maneira. Ele aceita.

Sara, que também é advogada e defende a si mesma e a seu marido, numa discussão com Alexander, afirma não entender porque ele aceitou o caso de Anna, uma vez que ela não podia arcar com as despesas do processo. Sempre acompanhado de Judge, seu cachorro, Alexander o leva ao tribunal no dia da audiência. A juíza responsável fica inquieta com aquele fato, mas aceita que o cão permaneça na sala, se ficar quieto. A certa altura da audiência, o cachorro começa a ficar agitado, a latir e tentar chamar atenção do dono. A juíza fica cada vez mais nervosa com a situação. Até que Alexander se levanta e deixa o recinto. Quando chega ao corredor, ele entra em uma crise de epilepsia.

Nesse momento, a narrativa de Anna Fitzgerald explica porque Campbell aceita defendê-la na justiça mesmo com o pagamento reduzido: ele sabia exatamente como era não ter controle sobre o próprio corpo. A referência à síndrome não aparece senão nesse momento, mas, apesar de curta, é uma passagem bastante significativa. Comparável à impossibilidade de Anna de escolher submeter-se a diversas cirurgias ou não, a epilepsia cria a identidade entre as duas personagens. Ela significa, de acordo com o filme, uma total falta de controle sobre o próprio corpo, que entra em convulsão sem que a pessoa possa controlá-lo. E há ainda o segredo, quando interrogado pela juíza sobre o porque de andar sempre acompanhado do cachorro, Campbell silencia sobre a síndrome. Provavelmente envergonhado por ter epilepsia, o advogado não anuncia a própria crise ou sequer justifica a presença do cachorro.

Aline dell’Orto Carvalho
Bolsista de IC
Março de 2010

 

A Vida é Bela

Título original: La vita è bella.
Gênero: comédia dramática.
Ano de lançamento (Itália): 1997
Estúdio: Melampo Cinematografica
Distribuição: Miramax Films

Roteiro:
Vincenzo Cerami e Roberto Benigni
Direção: Roberto Benigni
Elenco: Roberto Benigni, Nicoletta Braschi, Giorgio Cantarini.



 

O filme A vida é bela, de Roberto Benigni, conta a história de uma família que, graças à imaginação e à persistência do pai, Guido Orefice, consegue sobreviver aos horrores da Segunda Guerra Mundial e dos campos de concentração.

Guido é um jovem italiano que se apaixona por uma professora de escola primária de uma pequena cidade da Itália. Dora, a moça com que ele encontra sempre ao acaso e a quem encanta com suas fantasias, é filha de uma rica família e está para ficar noiva do antipático funcionário da prefeitura, Rodolfo, com quem não tem nenhum desejo de se casar. Depois de vários encontros fortuitos, Guido é retribuído em seu amor e ele e Dora se casam.

Apesar de toda a imaginação de Guido e de sua vontade de não se deixar abalar pela perseguição aos judeus, não há mais como negá-la, ao longo dos anos, vários acontecimentos não deixam dúvidas: o cavalo do seu tio é pichado com xingamentos aos judeus; quando Guido e Dora já têm um filho de aproximadamente 6 anos, Giosué, a porta da sua livraria é pichada com a frase “negócio judeu”; e a entrada de hebreus não é permitida em estabelecimentos comerciais da cidade. No dia do aniversário de Giosué, a casa dos Orefice é invadida e pai e filho são levados para um campo de concentração. Dora, que não era judia, pede para ir junto para poder permanecer com sua família. Para não permitir que o filho se assuste e tenha medo da situação, o pai sustenta uma fantasia de que a prisão é um jogo, onde quem conseguir se manter participando, ou seja, vivo, vence. E é assim que consegue esconder o filho e mantê-lo até o fim da guerra, sem ir para a câmara de gás, como tantas outras crianças que foram vítimas do exército nazista.

Mas o desejo de uma raça ariana, pura, superior, que povoava as mentes dos nazistas dessa época não se restringia apenas ao preconceito com os judeus. Também os ciganos, os comunistas, os negros, os homossexuais e muitos outros considerados impuros foram perseguidos. Dentre estes estão os doentes mentais e físicos.

A alusão à epilepsia é secundária em relação à trama, mas significativa no que diz respeito ao lugar dessa doença na política eugenista dos nazistas e fundamental na definição do caráter dos três personagens envolvidos na cena.

Numa conversa durante o noivado de Dora com Rodolfo, a diretora da escola onde ela leciona menciona um problema de matemática dado aos alunos de 7 anos na Alemanha. O que mais impressiona Dora na conversa é o fato de que único elemento que causa espanto à diretora é o fato de considerar o problema muito complexo para crianças dessa idade e o único comentário que Rodolfo faz é de que o problema é fácil, na verdade, e os dois nem sequer percebem quando Dora se mostra indignada com as suas opiniões.

Diretora: E não falo de Berlim. Até no campo, em Greveneck. 3° ano primário. Ouçam este problema. Ainda me lembro porque me impressionou. Problema: ‘Um louco custa ao Estado 4 marcos por dia. Um aleijado, 4 marcos e meio. Um epilético, 3 marcos e meio. A média é de quatro marcos ao dia, e os pacientes são 300 mil. Quanto economizaríamos se essa gente fosse eliminada, suprimida?

Dora: Meu Deus, não é possível.

Diretora: Eu tive a mesma reação, Dora. Meu Deus, não é possível para uma criança de 7 anos resolver isso. O cálculo é complexo. Frações, porcentuais, é preciso conhecer um mínimo de álgebra. Um problema de colégio, para nós.

Rodolfo: Não, é só uma multiplicação. Quantos aleijados são? 300 mil?

Diretora: Sim.

Rodolfo: 300 mil vezes 4. Matando todos economizaremos um milhão e 200 mil marcos ao dia. Fácil, não?

Diretora: Exato. Muito bem. Mas você já é grande. Na Alemanha, perguntam isso a crianças de 7 anos. É outra raça mesmo.”

No diálogo, a questão formulada às crianças alemãs expressa menos um problema matemático e mais a propaganda ideológica de um dos temas caros ao nazismo: a tese eugenista da eliminação dos fracos, doentes e impuros para a construção do triunfo da raça pura, e a reação de Dora, de Rodolfo e da professora situa o modo de cada um dos três ver e pensar o mundo.

A eugenia, uma área da medicina que tem como fim manter e aprimorar a civilização, a perfeição, a pureza da raça humana, encontra no projeto nazista de eliminação dos indivíduos chamados impuros o seu auge. Mas, esse pensamento não se restringiu à Segunda Guerra Mundial. No Brasil, no começo do século XX, especialmente, muitos médicos dos mais renomados, como Juliano Moreira, se diziam eugenistas e defendiam a purificação da sociedade. Esse processo contaria com proibição de casamento daqueles que podiam, por herança, fazer nascer outros indivíduos com as mesmas impurezas que ele; com a internação de todos aqueles que figurassem na sociedade como ameaça. Portanto, a fala da diretora sobre a eliminação daqueles que a formulação nazista do problema matemático considera um bem eliminar por serem epiléticos, aleijados e loucos representa a extrapolação de um projeto que era defendido por médicos de várias partes do mundo.

Segundo Juliano Moreira, atitudes eugênicas eram incentivadas nos países mais desenvolvidos e, em sua opinião, deviam sê-lo também aqui no Brasil. Diversos manuais médicos apresentam defesas de reclusão e isolamento de pessoas com síndrome de epilepsia, e que sofressem de outras síndromes ou de doenças mentais, sempre com a justificativa da defesa da sociedade contra a desordem que elas representavam.

Aline dell’Orto Carvalho
Bolsista de IC
Julho de 2008

 

Falcão Negro em Perigo

Título Original: Black Hawk Down
Gênero: Drama
Ano de Lançamento (EUA): 2001
Estúdio: Columbia Pictures Corporation / Revolution Studios / Jerry Bruckheimer Films
Distribuição: Columbia Pictures / Sony Pictures Entertainment
Direção: Ridley Scott
Elenco: Josh Hartnett (Sargento Matt Eversmann); Eric Bana (Sargento Norm "Hoot" Hooten); Ewan McGregor (John Grimes)

 

O filme mostra as equipes de soldados americanos que vão em missão de paz à Somália durante a guerra civil que assombra o país para fornecer comida à população, que não tem acesso a ela por culpa dos poderosos que comandam o país. Numa dessas missões, um grupo de soldados é enviado para buscar dois dos chefes de facções somalis, e, no entanto, o que deveria demorar meia hora, acaba tomando quinze horas e centenas de vidas.

Logo no início do filme, quando, num momento de descanso e descontração dos militares americanos, um deles, enquanto conversava e assistia à televisão, sofre uma crise epilética. Numa curta cena, a personagem é realmente mostrada sofrendo a crise. E, quando, depois de já passada a tensão, seu amigo pergunta ao superior o que será feito com ele, esse lhe responde que o soldado será enviado de volta para casa e substituído em sua posição.

Quando o superior explica ao soldado o que será feito com seu companheiro, ele não está necessariamente tendo uma atitude preconceituosa, no entanto, é importante atentar para o fato de que, dentre tantos motivos que podem fazer um soldado ser enviado do palco da guerra de volta para casa, está o fato de ter epilepsia. Ela foi a causadora, naquele caso, da perda da função que o militar tinha.

Há que se questionar também por que motivo os seus superiores não sabiam previamente da sua doença. Muitas vezes, as pessoas a escondem devido ao preconceito dos demais na hora de conceder um cargo, ou assumir uma função. Outra possibilidade é a “falsa crise”, muitas vezes verificada entre soldados, quer para escapar ao serviço militar, quer por medo aos confrontos armados.

Aline dell´Orto Carvalho
Bolsista de IC
Junho de 2007

 

O Último Rei da Escócia

Direção: Kevin Macdonald.

Distribuidora: Fox Films.

Elenco: Forest Whitaker, Simon McBurney, Gillian Anderson, James McAvoy, David Oyelowo, Kerry Washington.

Data: Setembro de 2006 (EUA)

 

O filme O Último Rei da Escócia mostra o governo ditatorial promovido por Idi Amin em Uganda (1971-1979) através do prisma do médico escocês Nicholas Garrigan. Recém-formado em medicina, o jovem médico decide ir para Uganda em busca de aventura e novas perspectivas de vida. Lá, por acidente, torna-se o médico pessoal de Idi Amin durante o período em que governava.

Rapidamente transforma-se no principal conselheiro do ditador. No entanto, ao encarar tudo como uma aventura, o dr. Garrigan se envolve em uma relação amorosa muito arriscada com uma das esposas de Idi Amin, Kay Amin. A maneira como Kay e o dr. Garrigan se conhecem é bastante interessante para a pesquisa.

Kay Amin vive separada das outras esposas de Idi Amin. Tem tudo o que necessita, mas nunca é visitada pelo marido e ditador de Uganda. O motivo deste tratamento diferenciado é o fato de um dos filhos de Kay Amin ter nascido com epilepsia.
Por causa da doença, Idi Amin procura isolar Kay e seu filho, tanto de sua vida privada como de sua vida pública. Dessa forma, o filho não pode ir ao hospital público para receber um tratamento médico para sua doença, por medo de expor publicamente aquilo que é considerado uma fraqueza do governante.

O personagem com epilepsia aparece apenas dessa maneira e não é um personagem relevante no filme, e a cena da crise é breve. Mesmo assim, preconceitos e tabus são revelados. Esta história mostra como o estigma da doença marca tanto a vida pessoal de um doente quanto a vida pública de um governante, em uma teia de exclusão que implica diversas esferas de relacionamento em uma dada sociedade.

Fonte na Internet:
http://www.imdb.com/title/tt0455590/. Acesso em: 14 abril 2007

Leonardo Martins Barbosa
Rio de Janeiro, 14 de abril de 2007

 

 

24 hours party people

Diretor: Michael Winterbottom
Ano de Lançamento (EUA): 2002
Mais informações: http://en.wikipedia.org/wiki/24_Hour_Party_People

(acesso em 19 novembro 2007)
 

Documentário ficcional sobre a cena musical de Manchester, Inglaterra, entre 1976 a 1997. Um dos personagens mais importantes (do filme e da música contemporânea) é Ian Curtis, líder da banda Joy Division (o nome "joy division" viria de uma "divisão" de mulheres judias obrigadas a servir sexualmente aos soldados alemães), epiléptico, que não só tinha comumente ataques durante os shows como fazia uma dança emulando movimentos epilépticos, tipo de dança comum entre os punks, e utilizada, por exemplo, por Renato Russo. (ver referência a seguir ao filme "Control")

Clóvis Gorgônio
Webdesigner do Projeto
Novembro de 2007

 

Control

Diretor: Anton Corbijn
Ano de Lançamento (EUA): 2007
Produziodo por: Tony Wilson, Deborah Curtis, Todd Eckert, Orian Williams, Iain Canning e Peter Heslop
Roteiro de Matt Greenhalgh, Deborah Curtis, Starring Sam Riley e Samantha Morton
Mais informações: http://en.wikipedia.org/wiki/Control_(2007_film)

(acesso em 19 novembro 2007)

Filme sobre o falecido líder da banda Joy Division, Ian Curtis (1956-1980), baseado no livro "Touching From a Distance", escrito pela esposa de Curtis, Deborah. (ver referência anterior, ao filme "24 hours party people")

Clóvis Gorgônio
Webdesigner do Projeto
Novembro de 2007

 

The Exorcism of Emily Rose

Direção: Scott Derrickson
Ano de Lançamento (EUA): 2005
Mais informações: http://en.wikipedia.org/wiki/The_Exorcism_of_Emily_Rose

(acesso em 19 novembro 2007)

A personagem, diagnosticada e tratada como epilética porém sem melhoras, passa por um processo de exorcismo. É baseada na história de Anneliese Michel, jovem católica alemã, que morreu em 1976. (ver referência a seguir ao filme "Requiem")

Clóvis Gorgônio
Webdesigner do Projeto
Novembro de 2007

 

Requiem
Direção: Hans-Christian Schmid
Ano de Lançamento: 2006
Mais informações: http://en.wikipedia.org/wiki/Requiem_(film)(acesso em 19 novembro 2007)

O filme foi promovido como uma "descrição mais confiável" dos eventos que levaram ao exorcismo de Anelliese Michem, em 1976. A atriz Sandra Hüller recebeu o Urso de Prata do Festival de Berlim em 2006 pela sua atuação como atriz principal. (ver referência anterior, ao filme "The Exorcism of Emily Rose")

Clóvis Gorgônio
Webdesigner do Projeto
Novembro de 2007

 

The Andromeda Strain
Direção: Robert Wise
Ano de Lançamento: 1971
Mais informações: http://en.wikipedia.org/wiki/Requiem_(film)(acesso em 19 novembro 2007)

Um clássico da ficção-científica, dirigido por Robert Wise (The Sound of Music ["A Noviça Rebelde"], West Side Story, The Day the Earth Stood Still ["O dia em que a Terra parou"]) a partir do livro de Michael Crichton (da série "Jurassic Park").
No filme, um grupo de cientistas, os mais brilhantes em suas áreas, são reunidos pelo governo americano para resolver um problema aparentemente ligado a causas alienígenas, após a queda de um satélite numa cidadezinha (todos os moradores morrem, menos um bebê e um velho alcoólatra). Uma das cientistas é suscetível a luzes vermelhas piscantes, e tem um ataque epilético durante uma situação de emergência, quando essas luzes são acionadas. Com isso, questiona-se a sua capacidade de continuar na equipe.

Clóvis Gorgônio
Webdesigner do Projeto
Novembro de 2007

 

Notre Dame de Paris
Gênero: Musical
Ano de apresentação: 1998
Músicas por: Richard Cocciante
Letras por: Luc Plamondon
Direção: Gilles Maheu
Elenco: Garou (Quasímodo), Daniel Lavoie (Frollo), Patrick Fiori (Phoebus), Helène Segàra (Esmeralda).
 

O musical, produzido e apresentado pela primeira vez na França, em 1998, apresenta uma releitura da obra de Victor Hugo, Notre Dame de Paris. A peça fez enorme sucesso em diversos países, e pretende representar com bastante clareza, por um lado, os conflitos internos pelos quais passam as quatro principais personagens: Quasímodo, um homem com deficiências físicas que, devido à sua aparência, foi mantido aprisionado na catedral de Notre Dame pelo arquidiácono da catedral, Claude Frollo, autoridade religiosa em Paris. Phoebus é um soldado do rei, que é noivo de uma bela moça da nobreza francesa. Esmeralda é uma cigana que, ao chegar a Paris, faz se apaixonarem os três homens, cada amor vivido à sua maneira. Por outro lado, a peça retrata as tensões sociais na cidade de Paris por volta do ano de 1492.

São representadas questões ainda atuais para o mundo contemporâneo e, portanto, o figurino da peça mistura elementos de época e acessórios atuais. Temas como exclusão social, desigualdade e preconceitos com a deficiência são apresentados como sendo parte do passado, mas que persistem ainda no presente.

Uma das músicas, Les portes de Paris, apresenta a população de rua que vivia às portas de Paris, proibida pelo arquidiácono Frollo de entrar na cidade durante a noite. Esse cenário é apresentado como um lugar de luxúria, onde vivem deficientes, alcóolatras, prostitutas, todos aqueles que são vistos como indesejáveis e como ameaça à ordem da cidade. O desejo carnal é colocado como característica desse lugar, assim como os crimes e as risadas.

Dentre as representações que os atores fazem de tantos tipos sociais que pertencem a esse grupo, há pelo menos dois que podemos identificar como sujeitos a crises que se assemelham muito àquela normalmente caracterizada como sendo de epilepsia. A expressão corporal dos atores é expressiva: o corpo caído no chão, tendo uma convulsão completa. A contorção das mãos, as pernas dobradas. Todas essas são marcas muito comumente encontradas nas representações da crise de epilepsia e que, nesse musical, estão situadas em meio a um mundo onde reina a desordem, um mundo  noturno que não pertence e nem pode pertencer à sociedade da cidade-luz. É um mundo onde a lei é a exclusão. E, ainda que a alusão à epilepsia não seja verbalizada, a representação de uma crise de epilepsia é inequívoca e é significativo que faça parte daquilo que é a desordem e que deve ser evitado, assim como o crime.

Aline dell’Orto Carvalho
Bolsista de IC
Junho de 2008

 

Os Doze Macacos
Título Original: 12 Monkeys
Gênero: Ficção Científica
Ano de Lançamento (EUA): 1996
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Terry Gilliam
Elenco: Bruce Willis, Madeleine Stowe, Brad
Pitt, Christopher Plummer, David Morse

 

Os Doze Macacos é um filme de ficção científica que aborda o tema de um vírus que foi solto nas cidades mais populosas do mundo e quase dizimou a espécie humana. Depois disso, no ano de 2035, os sobreviventes vivem num mundo subterrâneo, pois não podem voltar à superfície ainda infectada. O prisioneiro James Cole (Bruce Willis), em troca de sua liberdade, aceita viajar ao ano em que a humanidade foi contaminada para tentar descobrir qual foi o vírus espalhado, pegar uma amostra dele, para que assim se pudesse inventar a cura e os homens pudessem voltar à sua vida normal. Ele chega à solução do enigma minutos antes de sua morte por um tiro e não tem tempo de impedir que o desastre aconteça. Mas, como tudo isso aconteceu num passado não tão distante, James já estava vivo, tinha em torno de dez anos, o que sugere que tudo vai se repetir e que ele vai ter outra chance de salvar a humanidade.

Quando chega ao ano para o qual foi enviado, James Cole tenta convencer as outras pessoas a ajudá-lo, mas é tomado por louco e internado em um hospício. Conhece, então, Jeffrey Goines (Brad Pitt), um louco internado no mesmo hospício, filho de um famoso virólogo e bastante revoltado com o sistema capitalista. Numa de suas falas, Jeffrey se mostra também irritado com a situação na qual vivem os internos do hospício. Em dado momento, ele afirma que os doentes são transformados em vegetais pelos remédios que são obrigados a tomar e James Cole o interrompe, dizendo que gostaria de dar um telefonema. E a resposta dada por Jeffrey é a seguinte:

“Se comunicar com o mundo exterior? Quem decide é o médico! Se os loucos pudessem ligar à vontade, iam espalhar a loucura através dos ouvidos de gente normal. Loucos por toda parte! A praga da loucura. Na verdade, poucos aqui são realmente loucos”.

Nesta fala, o personagem de Brad Pitt demonstra a forma como encara sua própria condição de interno, a forma como é visto e que absorveu. A loucura é algo a ser calado, a ser afastado do convívio social. É tratada como uma praga, que pode se espalhar pela sociedade e, portanto, deve ser contida no hospício, instituição de tratamento e de isolamento. Os internos sofrem com o excesso de remédios, que servem para acalmá-los e torná-los resignados.

Durante muito tempo, pessoas com epilepsia foram tratadas da mesma forma. Seu tratamento se confundia com o da loucura, com o da histeria e de tantas outras doenças. A epilepsia era tida como uma doença mental.  Eram todos colocados no mesmo lugar, onde ficavam isolados do mundo, pois a sua síndrome era sinônimo de perturbação da ordem social.

O personagem vivido por Brad Pitt trata de um outro tema relevante no final dessa fala, que é o dos interesses que impelem à internação desnecessária exigida pelos próprios familiares da pessoa. Muitas vezes, a condição de uma pessoa não reclamava internação, no entanto, o interesse de familiares, por conta, por exemplo, de uma herança, levava à internação. Talvez Jeffrey não esteja diretamente se referindo a isso quando diz “na verdade, poucos aqui são realmente dementes”, mas com certeza a sua fala levanta a questão, bastante recorrente.

Portanto, o tema da internação como uma solução para os que estão fora de instituições asilares, para a sociedade que permanece livre, e uma violência para os internos, para os isolados, para os doentes, ainda se coloca na atualidade, assim como se colocava no começo do século XX.

Aline dell’Orto Carvalho
Bolsista de IC

Junho de 2008

 

Reflexos da Inocência

Título Original: Flashbacks of a fool
Gênero: Drama
Ano de lançamento (EUA): 2008
Estúdio: Left Turn Films
Direção: Baillie Walsh
Elenco: Daniel Craig, Harry Heden, Mirian Karlin, Olivia Williams.


 

Na cozinha da pequena casa localizada numa vila de pescadores na Inglaterra estão quatro mulheres e um adolescente. Grace, a dona da casa, está de pé, diante da pia, preparando o almoço; Peggy, Evelin e Mrs Rogers, estão sentadas à mesa; Boots aguarda de pé, próximo à porta, seu amigo Joe, filho de Grace, que se veste no quarto. Fitando severamente aquele jovem franzino, Mrs Rogers lhe dirige a seguinte pergunta:

“- Foi você que teve o ataque epilético no cinema?”

 A confirmação de Boots é acompanhada pela informação de que a crise fora induzida pelas imagens do filme que assistia. O jovem, um tanto constrangido pela pergunta da anciã, completa vacilante a resposta dizendo que o episódio ocorrido no cinema não mais havia se repetido. Com uma risada sarcástica Mrs Rogers vaticina:

“ – Uma vez epilético, sempre epilético.”

Enfim surge Joe, os jovens se despedem e cruzam a porta da cozinha, e ganham a rua.

Voltando-se para as vizinhas, Mrs Rogers conclui:

“ – Não confio nesse garoto. Parece que está sempre pronto para nos roubar algo.”

Essa é a única referência à epilepsia no filme que conta a história de Joe Scott, um decadente ator de Hollywood que, ao receber a notícia da morte de um amigo de infância, é levado a encarar seu passado. A adolescência repleta de descobertas e marcada por uma tragédia é o eixo central do primeiro longa-metragem do diretor Baillie Walsh.

Contudo, é interessante focar na aversão de Ms Rogers à Boots. Na narrativa de Walsh, não sabemos se a anciã não confiava no jovem devido ao fato de ser ele, supostamente, portador da moléstia, o que denotaria seu preconceito; não sabemos também se ele teve outras crises. O que podemos saber é que, ao menos em parte, a sombria previsão de Mrs Rogers se confirmou: Boots, de fato, apresentou uma fragilidade neurológica, sua morte, já adulto, é diagnosticada como aneurisma cerebral.

outubro de 2009

 

Teatro

Carolina
Texto: Tarcísio Lara Puiati
Direção: Renato Farias
Assistente de Direção: Fernanda Boechat
Direção Musical e Trilha Sonora Original: Wladimir Pinheiro
Elenco: Júlia Rabello, Laura Castro, Marta Nobrega e Sarah Cintra
Cenografia: Melissa Paro
Figurinos: Rodrigo Cohen
Iluminação: Paulo César Medeiros
Local: Centro Cultural Banco do Brasil – Teatro III (Rua Primeiro de Março, 66 – Centro, Rio de Janeiro)
10 a 25 de novembro de 2007
quarta a domingo, 19:30h
 

Um olhar feminino para homenagear o escritor Machado de Assis às vésperas do centenário de sua morte ocorrida em 1908. Essa é a proposta do dramaturgo Tarcísio Lara Puiati ao levar aos palcos a peça Carolina. Dirigido por Renato Farias, o espetáculo tem Carolina Augusta Xavier de Novais Machado de Assis – ou simplesmente Carolina – como personagem central. Numa narrativa que mistura a biografia e a obra de Machado, as atrizes Júlia Rabello, Laura Castro, Marta Nobrega e Sarah Cintra se revezam interpretando, além de Carolina, várias outras personagens femininas do universo machadiano. O amor eternizado por Machado em textos pessoais e ficcionais aparece a todo o momento em cenas onde Carolina, Guiomar, personagem de A mão e a luva, Helena personagem título de um de seus romances e Capitu, de Dom Casmurro – dialogam, trocam memórias e impressões acerca de Machadinho – carinhosa alcunha dada ao autor por Carolina. A realização do espetáculo contou com uma pesquisa que, além de rever grandes momentos da obra do autor, recorreu à biografia de Machado escrita por Lucia Miguel Pereira e às cartas trocadas por Carolina e Machado. No palco, os desafios de um casal que, por trinta e quatro anos, enfrentou com austera sobriedade as contradições de uma sociedade repleta de preconceitos raciais e sociais – cabe lembrar a origem humilde do mulato Joaquim Maria Machado de Assis, que veio a se unir em matrimônio com uma culta senhora da boa sociedade.

O que Carolina nos oferece especificamente aos que se interessam pelo tema da epilepsia em sua perspectiva histórica é a passagem onde uma crise de epilepsia sofrida por Machado é relatada. No início, Carolina é perguntada sobre a doença – em nenhum momento se usa a palavra epilepsia – e responde com um longo silêncio. Em seguida, a pergunta é repetida, acompanhada de novo silêncio. Então, de forma angustiada e constrangida, Carolina descreve a estranha tonteira, que tal qual uma espécie de transe, deixa o corpo em convulsão. A impotência de Carolina é acompanhada pelo vexame: “alguém viu?”, pergunta-se. E quase em sussurros conclui, metaforizando a sensação deixada pela triste experiência: [...] nos envolvendo, a chuva, o raio, o trovão...       

O emocionado mergulho nessa grande história de amor nos permite dimensionar as dificuldades vividas por uma pessoa com epilepsia durante no século XIX, mesmo sendo esta pessoa um prestigiado literato. O preconceito, o silêncio, o estigma, mais que pensamentos idos e vividos, constituem as experiências concretas de um dos maiores intérpretes da sociedade carioca e brasileira.

Novembro de 2007
Roberto Cesar Azevedo
Aluno do Curso de Graduação em História da PUC-Rio
Participante voluntário do Grupo de Pesquisa
 


 

©Portinari

Uma História Social da Epilepsia
no Pensamento Médico Brasileiro

História - PUC-Rio